O Caramelo (tinha de ser dessa família) enroscado na poltrona descartada, dormindo o sono dos bem alimentados e levando a vida de rua, livre da guia, das vacinas, da castração e do tutor. Entregue à própria sorte, ele sobrevive como cão sem dono. Cada dia é uma aventura. Cada vez que olho para um desses cães que vivem na rua, penso que devem saber muito dos homens. Precisam aprender desde cedo em quem confiar, pois atualmente não há mais latas de lixo que possam virar para obter alimento. Portanto, é aqui e ali que tomam água, quando não chove, e que encontram comida, quando não lhes é dada. Penso que, na estrita perspectiva de suas vidas, esses cães têm, basicamente, três alternativas que a sorte ou o destino lhes coloca. Continuarem na rua, desfrutando de uma liberdade que os põem em face da incerteza e na dependência de seus instintos, correndo todos os riscos que a cidade oferece, mas também vivendo a vida a grandes goles, apesar do risco de fome, frio e doenças. Podem também ir parar em abrigos, em meio a coletividades cada vez maiores, que aumentam muito, de sorte que terão companhia, alimento e relativo bem-estar, mas perderão essa liberdade malandra que só as ruas oferecem. A terceira alternativa seria a adoção. Ser acolhido por um humano e acabar em um lar, quente, protegido, com comida na hora certa, caminha com um nome qualquer, veterinário, vacinas e uma guia de passeio somente nas horas certas, livre de pulgas, talvez, obedecendo ordens e devendo aprender a fazer xixi e cocô apenas em lugares certos. Fico então filosofando sobre o existencialismo canino e procuro em mim mesmas respostas hipotéticas a essas perguntas não menos hipotéticas. Se eu fosse um cachorro, o que escolheria? A liberdade e autonomia com todos os riscos? O abrigo limitador? Um tutor que eu deveria amar e... obedecer? Ah, eu sei o que eu escolheria, sem hesitar, aliás. E você?
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