quinta-feira, 4 de julho de 2024

PAMELA ANDERSON

 Foi há pouco mais de um mês. Era um desses dias em que a chuva despencava sobre Porto Alegre. Chuva assustadora, por conta da recente enchente de maio. Um casal de amigos meus seguia de carro para casa. Final de tarde, noite chegando. Com pouca visibilidade, alguma coisa em frente atrapalhava o trânsito na Av. Assis Brasil. Mais devagar, meu amigo viu que a "coisa" era um cachorro, vítima de atropelamento, com certeza, fazia pouco tempo. Ele parou o carro e desceu. Era uma cachorra de uns vinte quilos. Estava consciente, deitada de lado e com uma perna quebrada, com certeza, pela posição que mostrava. Ela não tinha como sair dali caminhando, pensou meu amigo. E, se ficasse, seria novamente atropelada. Por perto, ninguém parecia dar a menor importância àquilo tudo. Até havia um "dono" da cachorra acidentada, mas ele não quis saber de socorrê-la. Imperdoável omissão. Meu amigo não pensou duas vezes. Sorte dele ser forte, porque foi necessário erguê-la com cuidado do asfalto molhado. Colocada no carro, minha amiga amparava o pobre bichinho a caminho de algum centro veterinário que pudesse atender à emergência. Socorrida, Pamela Anderson, como foi batizada depois, teve de ficar internada. Constatou-se que era muito velha, entre doze e quinze anos, e também muito fedorenta, gorda e com apenas quatro dentes inteiros na boca, sem falar na perna quebrada. Coisas da vida. Meus amigos assumiram a bronca. No dia seguinte, radiografia, fratura confirmada e cirurgia prescrita. Foi enfaixada e, com alta provisória, levada para casa de meus amigos para aguardar a cirurgia que saiu em poucos dias, depois de uma intensa busca para obter o melhor para Pamela, tudo a cargo de minha amiga, que se dedicou com todo carinho à nova hóspede, instalada na casa. Foi feita a correção da fratura com colocação de uma prótese. Apesar de idosa, Pamela se mostrou forte e saudável. Fora a perna quebrada, nenhum problema de saúde. Tratamento completo, com antibióticos e anti-inflamatórios ministrados por meus amigos nas horas certas. Bem cuidada, a recuperação foi tranquila. Nenhuma complicação. Não tendo para onde ir, uma vez que o ex-dono não fez nenhuma questão de socorrê-la, Pamela permanece na casa dos meus amigos, com duas outras companheiras caninas com as quais ela implica. Chegou, tomou conta de uma das camas, rosnou para as duas "donas da casa" e foi ficando. Como é velha, não brinca muito. Dorme bastante, come e descansa. Passeia devagar todos os dias. Os olhos parecem cansados, por conta de uma catarata que já se inicia. Seja como for, o destino deu um jeito na vida da Pamela Anderson: ganhou um nome, ganhou roupas, uma cama quentinha, ração prêmium todos os dias, casa, comida, dois humanos que se dispuseram a cuidar dela em um momento difícil e duas companheiras para as quais ela rosna e resmunga. Enfim, o susto passou. A adoção não estava programada. Brinco com meu amigo que algum duende interpretou mal o desejo dele, que era o de adotar um pitbull grande, forte, de pelo brilhante e cara de mau. Veio a Pamela. Coisas do destino? Não sei. Particularmente, quando penso nessa história, me ocorre que a Pamela não sabe a sorte que teve. Ou sabe.

 

2 comentários:

  1. Amo ler tuas histórias

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  2. Fico muito feliz em saber que você ama ler essas histórias, Anônimo! Seja sempre bem-vindo aqui!

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