Era uma vez,
em uma aldeia esquecida pelo tempo, um homem cuja idade era incerta. Seu
semblante trazia as marcas de anos vividos, mas seu vigor permanecia intacto.
Ele era uma figura solitária e misteriosa, vestindo-se sempre com elegância. Era
alto e parecia forte. Jamais sorria. Suas palavras eram medidas com parcimônia,
como se cada uma custasse um alto preço. Sua casa, antiga e imponente,
permanecia quase sempre fechada, com as janelas vedadas. Era como ali se
escondessem antigos segredos.
O homem
raramente era visto fora de casa. Quando o fazia, era para uma breve caminhada
ou para receber entregas, sempre evitando qualquer interação desnecessária. A
aldeia, inquieta com o desconhecido, começou a sussurrar. Seria ele um
fugitivo? Um assassino? Ou talvez algo ainda mais sombrio? O murmúrio crescia
com o tempo, tecendo uma teia de especulações e medos. Contavam os mais
antigos, que o homem se mudara- para ali discretamente há muitos e muitos anos.
De um dia para outro, ocupou a antiga casa de pedra, que fora reformada
recentemente por gente de fora da cidade que ia e voltava em silêncio.
Então, um dia,
algo inesperado aconteceu. O homem apareceu com um cão. Mas não era um cão
comum. A criatura era enorme, de pelagem cinzenta e densa, com olhos oblíquos
que brilhavam de tal forma que era impossível olhar para o animal e não pensar
que era quase humano. Seu porte lembrava mais um lobo selvagem do que um animal
doméstico. O cão acompanhava o homem por toda parte, silencioso e vigilante,
emanando uma aura de mistério que rivalizava com a do próprio dono.
A presença do
animal despertou novos rumores. Seria ele um lobisomem? Um guardião demoníaco?
As histórias se multiplicavam, cada uma mais fantástica que a outra. O cão, tal
como o homem, não incentivava aproximações. Seu tamanho intimidava, mas era o
olhar que realmente afastava qualquer tentativa de interação. Havia algo de
inexplicável naqueles olhos, algo que sugeria mistérios, segredos antigos e
proibidos.
Certa noite,
quando a aldeia estava envolta em um silêncio profundo, o homem e seu cão
partiram para uma caminhada na floresta que cercava a vila. Um morador da
vizinhança, todavia, os observou de longe quando saíram de casa. Intrigado,
decidiu segui-los de longe, movido por uma curiosidade que não podia ser
contida.
À medida que
adentravam na escuridão da floresta, o vizinho espião mais cautela tomava, para
manter-se distante. Contudo, algo estranho aconteceu, quando o homem pareceu se
dissolver na penumbra, enquanto o cão permanecia lá, encarando agora o
observador com um olhar que lhe atravessava a alma. De repente, o cão se
transformou. Sua forma corpórea se desfez, revelando uma criatura etérea,
luminosa, que parecia ser feita da própria luz das estrelas.
O cão era
mágico, sim, mas não de uma magia sombria. Ele era um guardião de antigos
conhecimentos, um protetor de segredos ancestrais. Sua missão era proteger
aquele homem solitário, não por quem ele era, mas pelo que guardava com ele,
segredos que poderiam salvar ou destruir o mundo.
Quando o
observador finalmente compreendeu o que seus olhos testemunhavam, jurou para si
mesmo calar-se a respeito de tudo o que vira. Depressa, afastou-se dali, não
sem antes testemunha o desaparecimento da criatura luminosa que voltou a ser
apenas um cão. O silêncio da floresta se fez então assustador. E com ele, a promessa
de que alguns segredos devem permanecer ocultos.
Imagem criada com IA