A lealdade, por definição, é — ou deveria ser — uma condição tipicamente humana. Seria a capacidade de pactuar um compromisso sincero e constante, baseado em fidelidade, confiança e respeito de parte a parte. Lealdade é estar ao lado de quem se deposita confiança. É ser capaz de defender esse alguém visando aos seus interesses, seus valores, mesmo em tempos de adversidade. No que respeita à humanidade, essa condição, embora exista na realidade, mostra-se muito frequentemente bem mais como idealidade. Todavia, no que respeita aos cães, desconheço exemplo mais eloquente de lealdade. Que o diga quem já conviveu com uns e outros.
Este foi o BLOG DO ALEX, que já não está mais entre nós. Durante muitos anos, postei aqui fotografias e contei um pouco da história do meu amado cachorrinho, companheiro querido, que fez muitos amigos em toda parte. Hoje, volto a escrever, para falar de amigos queridos e das minhas eternas saudades.
domingo, 7 de julho de 2024
sábado, 6 de julho de 2024
O Cão e o Galo
Então, foi em 2020. Tempos de pandemia. Andando pelo interior do estado, uma parada na estrada. Era uma fruteira muito simples, que comercializava produtos coloniais também. Como não me interessava comprar coisa alguma, andando por ali, eis que me deparo com uma dupla inusitada: um velho cão castanho, grande, lento, gordo, talvez reumático, mas observador. Ao lado do velho cão, desfilava um belo galo de linda plumagem, crista vermelha, altivo, valente, que agia como verdadeiro dono do lugar. Serenamente ambos me olhavam. Depois, notei que observavam também os forasteiros que, por ali, só queriam saber das compras. Uma gente meio confusa, barulhenta, que mal descia dos carros, começava a andar para lá e para cá. Gostei de observar a dupla que até fotografei. O cão, muito lento, olhava-me com ar cansado, enquanto o galo se exibia, ora ciscando, ora batendo as asas. Gostei mais do estilo do velho cão, que caminhava muito devagar perto de uma típica casinha de cachorro, muito velha e descuidada que, presumo, fosse dele. Já o galo, este, exibia-se, alçava a crista, batia as asas. Parecia buscar aplausos, sabendo-se bonito. Certo de que era um Pavarotti, abria o bico, mostrava a língua e cantava, alongando as notas até a rouquidão. O cão, silencioso, limitava-se a olhar e a escutar seu parceiro. Passei alguns minutos observando os dois. Subitamente, porém, o galo desafinou. Foi um fiasco. A longa nota estridente soou em falso, escandalosamente desafinada. Eu sorri. E acreditem, no mesmo instante, pude ler, no semblante sereno do cão, um leve arquear de sobrancelhas. Eu poderia jurar que trocamos olhares, discretamente, sorrindo da malograda performance do outro. Instante mágico, como mágica seria a cumplicidade que minha imaginação teima em afirmar que existiu exatamente naquele instante entre mim e cão. O galo? Ah! O galo continuou a ciscar e a cantar, exibindo-se, sem suspeitar do Natal que já se aproximava. Os forasteiros? Ah, estes só se ocupam de seus misteres e nada sabem dessas coisas. Eu? Bem, eu ainda tenho a esperança de ser compreendida por esses velhos e serenos cães que, assim como eu, precisam conviver com homens e galos, ambos tão performáticos às vezes. Faz parte.
quinta-feira, 4 de julho de 2024
PAMELA ANDERSON
domingo, 30 de junho de 2024
Apenas a minha imaginação
terça-feira, 25 de junho de 2024
domingo, 23 de junho de 2024
Meu amigo e seus amores
Tenho um amigo de décadas que leva o maior jeito com bichos. Olhando bem, ninguém diria. É um tipo fortão, praticante de artes marciais, faixa preta, sempre sério. É careca, grande (ele lembra um armário), disciplinado e com cara de mau. Sorri pouco e fala menos ainda. Enfim: ninguém, absolutamente ninguém, olhando para ele, poderia desconfiar do quanto ele se derrete quando se depara com bichos. E os bichos por ele. Teve até um grande amor chamado Bibi. Era uma cocker spaniel de longas orelhas que deveria ser oficialmente o cachorro da família. Pois é, deveria. Mas Bibi nitidamente preferia o meu amigo e não havia santo que a fizesse se afastar dele. Assim, nas temporadas de verão, Bibi se recusava a ficar na praia se meu amigo também não ficasse, de sorte que ia e voltava com ele onde quer que fosse. Pulava para dentro do carro e pronto. Não havia meios de dissuadi-la a ficar. Mas não era só a Bibi. Meu amigo parece que possui um ímã que atrai a simpatia dos bichos, mesmo os fiéis companheiros dos amigos dele invariavelmente demonstram uma especial predileção pelo meu amigo. Pois bem. Há alguns anos, arrumou uma namorada que tinha uma gata. Claro que não deu outra. Amora, uma gatinha preta, e meu amigo acabaram morando juntos, e nada me convence que o romance dele com a namorada humana deu muito certo também por conta da Amora. Depois da Amora, chegou a Nina, particolor, que ele chama de “fusilica”, porque não para um minuto. No início, houve ciumeira, pois Amora se recusava a aceitar a intrusa. Mas, com o tempo, tornaram-se boas companheiras. Nem preciso dizer que o meu amigo é idolatrado por ambas. E, até onde sei, continua gostando muito de bichos, e os bichos dele. Naturalmente. Quanto à humanidade em geral, tenho para mim que meu amigo é, quanto a isso, tão cético quanto eu.
quarta-feira, 19 de junho de 2024
Adilson
Não posso deixar de contar aqui a história do Adilson. Aliás, só o nome e a elegância do gato já valem esta postagem. Pensem bem: Adilson! Soa bem, definitivamente. Adilson, até 2021 ou 22, morava na Zona Sul de Porto Alegre, em um condomínio, aliás, de ótimo nível. Bom, tem piscina, salão de festas, academia, essas coisas. O Adilson não apenas morava lá. Mais do que isso: ele era, simplesmente, o “dono” de um dos apartamentos.
Verdade! O apartamento teve vários moradores e até proprietários. As pessoas moravam e se mudavam, porém Adilson não. Ele continuava no imóvel. Os moradores podiam residir ali, mas deveriam “aceitar” a presença de Adilson naquele apartamento, garantindo sua alimentação e outras necessidades. E assim foi por anos! Adilson literalmente morava naquele apartamento, de onde saia bastante durante o dia, travando amistosas relações com todos os moradores do condomínio. Afinal, quando não chovia, passeava pelo estacionamento e, como muitos dos condôminos tinham carro, ele circulava por ali, sempre de bom humor, sempre simpático.
Quando não rondava o estacionamento, — ele adorava subir no capô dos veículos e tomar sol — Adilson costumava tirar uma soneca na parte externa do ar condicionado do seu apartamento, que possuía, aliás, uma passagem de entrada e saída exclusivamente dele, Adilson. À noite, quase sempre, recolhia-se. Eu tive a sorte de conhecer o Adilson e até de brincar com ele. Era manso, pacífico, simpático e, claro que sim, guloso. Não sei como não chegou a ser eleito síndico à época, tamanha sua popularidade. O tempo passou, porém, e operou mudanças. Adilson andou meio doente e, por conta disso, foi levado embora do condomínio, porque parece que precisava de assistência veterinária constante. Desde então, tive poucas noticias dele. Uma pena não morar mais lá. Um gato inesquecível.
Fotos de 2021, tiradas pelo Eduardo, um dos vizinhos do Adilson.
terça-feira, 18 de junho de 2024
"Çei"
segunda-feira, 17 de junho de 2024
Coisas da Vida
domingo, 16 de junho de 2024
Vizinhança
Um cachorrinho chamado Feio
Conheci o Feio há muitos anos e até já escrevi sobre ele em 2019. Jamais o esqueci. Sua triste história conta mais a história dos homens do que a história dos cães, alternando maldade e bondade. Quando o vi pela primeira vez fiquei encantada com a forma carinhosa com que ele buscava ficar perto de todos. Pude brincar com ele, acariciar seu pelo macio. Outros cães da casa o ajudavam muito, assim como as pessoas que lá o acolheram logo após sofrer verdadeiras atrocidades que o deixaram cego e sem uma patinha. Ainda assim, Feio não teme os homens. Ao contrário: aproxima-se deles com afeto. Vive em uma casa grande onde existe uma piscina. A princípio, temia-se que, por ser cego, Feio pudesse cair nela. Para surpresa de todos, os outros cachorros da casa imediatamente perceberam o risco e, acreditem, todos passaram a cuidar do Feio e a guiá-lo sempre que, com seu passo incerto, ele saia para o jardim e se aproximava da borda da piscina. Também era "cuidado" pelos outros cães na hora de comer e de beber água, pois era delicadamente conduzido até o prato e o bebedouro. Feio é, para mim, uma lembrança marcante. Sei que não está mais entre nós. Sei que sua vida foi muito triste desde o nascimento até sua acolhida. A partir de então, recebeu todo amor e cuidado. Hoje, tanto tempo depois, ainda penso nele e, sinceramente, ainda me vem à mente a forma carinhosa como chegou perto de mim e recebeu meus afagos e festejos. Apesar de tudo o que sofreu, ele ainda confiava em humanos. Penso que Feio talvez conhecesse a paz. Afinal, ele a distribuía e a inspirava onde quer que estivesse, apesar de tudo o que sofreu. Quem sabe?